domingo

Cena 4

Percebo, mesmo que de relance, as cortinas se fechando pouco a pouco.
O meu show à luz dos spots está se despedindo dos palcos da vida e me desespero como criança tola que sou.
Não poderia desta vez justificar certas incapacidades com o medo. Medo esse já sobrecarregado.
Estou neste momento com um cigarro aceso
e um pouco inebriado de algumas cervejas tomadas ao longo deste dia estafante.
Quero nem que seja por uma fina meada, acreditar que nada está perdido. Que ainda estarei em cartaz amanhã ou depois, quando você passar por esta mesma rua.
Mas nada é tão certo quanto os dedos que aqui trabalham freneticamente, traduzindo em palavras escritas o que penso e não falo. O que penso e me calo.
Meu único presente este ano foi um livro espírita.
Mascarei minha inquietação.
Já se foi o tempo aos pés da grande árvore de frutos coloridos e "pasme", falsos.
O ano está acabando como areia em uma ampulheta. É a vida se esvaindo.
As luzes estão cada vez mais apagadas, acendendo o meu desespero de figurante. Abre-se um buraco sob meus pés e nele, flutuo. Mas as cortinas se fecham, selando de uma vez por todas o que nunca foi visto.
O show acabou.

2 comentários:

Line disse...

Acabou.
E tá na hora de começar outro =)
Adorei aqui ;*

Bruna disse...

Às vezes as cortinas se fecham. Às vezes nós a fechamos. Ou nos fechamos. Mas o importante são os aplausos. Ou as vaias. Não sei direito.